Jan 17, 2012

A GEURRA DE MANUFAHI (continuação)

Os acontecimentos ocorridos nos meses de Maio, Junho Julho de 1912.

Durante os meses de Maio e Junho de 1912, as forças do governo avançavam lentamente sobre o reduto de Cablac. O governador Filomeno da Câmara dirigia as operações. Nesse período o governo dispunha de 21 oficiais, 463 soldados de primeira linha, 597 moradores e 7.757 auxiliares. Estes provinham dos reinos de Fatomasi, Liquiçá, Maubara e Maúbo. Estas forças estavam colocadas á volta de Cablac, e iniciam o ataque no dia 25 ou 26 de Maio.

Mas os manufaistas conseguiram levar melhor sobre os atacantes que foram repelidos. Do alto das montanhas sucediam-se avalanchas de rochas que resvalavam pelas encostas. Os auxiliares retiram-se em debandada deixando dois mortos atrás de si. A 27 de Maio quatro colunas apoiadas pela artilharia voltam ao ataque. Da montanha choviam pedras, rochas, flechas e chumbos. Desta vez, as forças governamentais depois de dispararem 405 tiros nos quais foram gastos 20.000 cartuchos, conseguiram desalojar os “rebeldes”que abandonam o Cablac de Aituto.

Além das forças acima referida, o governo da Colónia contava com a canhoeira a Pátria. Comandado pelo novo comandante Gago Coutinho, o navio largou de Díli, no dia 24, para a costa sul transportando carga, mantimentos, armas e munições para as guarnições que cercavam Leo-Laco, uma das quais era comandada pelo capitão do porto de Díli, 1º tenente Manuel Paulo de Sousa Gentil.

Tinha ancorado no taci mane, em frente de Betano. A presença da canhoeira deu apoio decisivo às tropas em terra, onde se encontrava o 2º tenente Mesquita Guimarães. No dia 27 de Maio, o navio bombardeava Leo-Laco com peças de 100 mm. Embora s marinheiros não vissem os danos causados pelos bombardeamentos, contava-se em Díli, algumas bombas caíram na residência da rainha de Betano, onde estavam reunidos vários datos. Parece que houve vítimas naquela localidade.
No dia 29 de Maio, as forças do governo tomavam Ablai.

O navio fez a patrulha à volta de Betano durante sete dias. No dia 4 de Junho a Pátria regressou a Díli, Entretanto, as forças terrestres iam avençando sobre Riac e Leo-Laco. O capitão Azevedo avançou para as rampas de Caicassa, enquanto o governador descia para Rotuto e Ablai-Dum. O comandante Ramalho realizava rondas ao norte de Cablac para garantir a passagem dos arrais para a zona de Hola-Rua.

No dia 4 de Junho os homens de Dom Boaventura abandonaram o acampamento Leo-Mali, em Tarucuamo, lugar que foi imediatamente ocupado pelas guarnições do governo. Tempo depois os portugueses e os seus aliados tomavam o sitio de Tui-Ura. Os diversos destacamentos iam ocupando zonas de Manufahi. Os tenentes Magalhães e Pinto com os arraiais de Liquiçá ocupam Same; O capitão Faure da rosa, à frente dos arraiais de Baucau ocupava Leorai e as regiões mais a sul. No flanco direito de Cablac o tenente Gentil que tinha ido de Suro acabava de acampar em Leo-Lima. No dia 9 de Junho, o governador estabeleceu o acampamento e quartel-general em Raimera.

A região de Raimera era coberta de densa matagal. Ali os manufaistas tinham construído muros de pedra, sebes de bambu e ramos de árvores para impedir a passagem aos malaes. A tomada de Raimera por parte dos portugueses durou três dias. Finalmente no dia 14 de Junho de 1912, o governador conseguiu ocupar Riamera, depois de ter sido apoiado por um pelotão da 8ª companhia, de oradores e arraias de auxiliares.

Na zona sul, o capitão Faure da Rosa à frente dos moradores de Baucau acabavam de ocupar a região de Turon. Entretanto houve lutas renhidas entre os rebeldes e os moradores. Os “rebeldes” chegavam a atacar de note os postos de Tir-Guer entre Turon e Tir-Ai.

Nos dias 15 e 16 de Junho, as forças do governo punham cerco a Riac que conseguiu resistir até o dia 16 de Julho. Nesse fatídico dia Riac rendeu-se. Foram feitos prisioneiros 4.500 manufaistas. Os valorosos “rebeldes” entregaram 342 espingardas milhares de catanas e azagaias. Mas Leo-Laco continuava inexpugnável! Nesse monte lulic Dom Boaventura iria resistir até Agosto de 1912.

Porto, 13 de Janeiro de 2012.
Dom CARLOS FILIPE XIMENES BELO

Como dissemos nas crónicas anteriores que durante os meses de Fevereiro e Março do ano de 1912, estavam decorrer as operações contra o reino de Manufahi.

O avanço das forças governamentais apoiadas por arraiais dos comandos militares ia tornando mais difícil a vida dos timorenses em rebelião. As áreas de Cablac ocupadas pelos “manufaistas” iam-se tornando mais estreitas. Dom Boaventura da Costa, a família e muito povo encontravam-se entrincheirados nas fortalezas de Riac e leo-Laco.

As consequências da guerra eram várias: aldeias abandonadas, casas incendiadas, roubo de gado; abandono de culturas (café, milho e arroz), doenças, fome, e morte. Tanto da parte dos rebeldes como doas forças governamentais havia muitos feridos e dezenas de mortos. Fizeram-se dezenas de prisões. Na Praça de Dili, em 1912, havia mais de 4 mil prisioneiros na cadeia.

Mas, nã era só à volta de Cablac que decorriam as operações contra os rebeldes. Na região de Bobonaro as forças do governo realizaram vários “raids” contras as populações. Houve operações à volta de Bobonaro, Atabae, Atsabe, Hatolia e Cailaco. Essas operações tinham o objectivo de elimar possíveis revoltosos e de impedir a sua passagem até Manufahi. Mesmo assim, os portugueses registaram entre as suas fileiras, 30 mortos e uma centena de feridos.

Sucedeu, então que em vários reinos, sobretudo, da parte ocidental, muitas pessoas começaram abandonaram as suas aldeias, procurando refúgio nos reinos vizinhos ou no território de Timor holandês.

Famílais inteiras de Atsabe, Leimean, Deribate Cailaco dirigiam-se para Memo e para a fronteira. O êxodo destas famílias ocorreu nos dias 9 e 10 de Maio de 1912. Foi nesta ocasião, que o régulo de Memo, Bere-Tali perpetrou o massacre contra os fugitivos, nas margens do rio Malibaca. Segundo o Relatório das Forças da Fronteira, o régulo e os seus homens mataram mais de 100 pessoas, entre as quais 6 chefes. Nos fins de Maio, na povoação de Sadi, no território holandês, havia 2.000 refugiados timorenses.

Conta-se que em Atsabe, as pessoas preferiram morrer de fome e de sede nos seus esconderijos a entregar-se às forças governamentais. Conta-se ainda que os timorenses fiéis ao governo, numa das suas campanhas pelas aldeias, cortaram mais de 300 cabeças aos seus inimigos.

O corte de cabeças era um acto de valentia. Morto o inimigo, a cabeça é decepada e levada para o acampamento. Os acampamentos das tropas em Maubisse estavam enfeitados com cabeças cortadas.

No mês de Abril de 1912, Dom Boaventura escreveu ao governador Filomeno da Câmara apresentando as condições da sua rendição. Mas o malea boot (embot) não fez caso do pedido e continuou a reforçar as suas posições no terreno.

No dia 29 desse mês chegavam a Dili mais reforços. Tinha atracado um navio português que levava a 9ª Companhia de soldados moçambicanos, (seis oficias, 14 sargentos e 233 soldados). Metade dessa companhia seria encaminhada para Suro, via Liquiça, Hatolia e Atsabe.

Dom Carlos Filipe Ximenes Belo

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